Tuesday, March 24, 2015

Visita a Keukenhof

Roses are red, violets are blue, tulips are... colorful.

E a partir daqui começo a escrever em português, não vá parecer uma conferência do Zeinal Bava nos anos dourados, antes de se perceber que o homem afinal percebia tanto de gestão, como eu de passar camisas a ferro.

No Domingo, a convite de uns colegas/amigos - e depois de um jantar de sushi, no qual testei os limites de armazenamento do meu estômago - fui visitar o keukenhof garden.
Quando me falaram que o plano era ir de bicicleta e voltar, subitamente descobri um enorme interesse por tulipas, que deveria andar adormecido até à data :)

Aluguei a bicicleta mais barata que encontrei. Single-speed, travão de contra-pedal, chiava um bocado a cada pedalada... resumindo, era PERFEITA!
Isto depois de anos a andar em bicicletas de carbono afinadas que nem relógios suíços, sabe bem voltar ao básico.

Toda a gente foi pontual (é incrível como toda a gente é pontual), e arrancamos à hora marcada.
A viagem foi agradável. Bom tempo, sol a espreitar, paisagens agradáveis... O facto do terreno ser plano permite ter uma visão mais extensa de onde estamos e para onde vamos. É um país muito bonito fora das zonas citadinas, e para se ir descobrindo aos poucos.

Eu lá ia qual miúdo de 5 anos em cima da minha bicicleta que chiava... vento na cara, a explorar uma cidade nova, um país novo, paisagens novas. O tal sentimento que já me fez embarcar em tantas aventuras por aí.


Depois de cerca de 2horas chegamos ao destino. Almoçamos. Fizemos a visita ao jardim, tiramos umas fotos, umas brincadeiras... A companhia foi muito agradável. Gente simpática, descontraída. divertida.



Depois de vermos tulipas de todos os tamanhos, feitios e cores - para além de outros elementos de interesse que existem no parque - era hora de voltar.


Seriam mais duas horas a pedalar.
Entretanto o sol foi descendo devagar, reflectindo na agua, fazendo com que o background da nossa viagem fosse ainda mais bonito.
O cansaço de um longo dia ia-se apoderando dos nossos corpos, mas toda a gente tinha a expressão de um sorriso desenhado no rosto.
Cheguei a casa as 9 da noite, depois de um longo dia. E que grande dia.


Beijos e abaços

2 comments:

  1. hoje escutei este poema para assinalar a morte do poeta...

    Bicicleta

    Lá vai a bicicleta do poeta em direcção
    ao símbolo, por um dia de verão
    exemplar. De pulmões às costas e bico
    no ar, o poeta pernalta dá à pata
    nos pedais. Uma grande memória, os sinais
    dos dias sobrenaturais e a história
    secreta da bicicleta. O símbolo é simples.
    Os êmbolos do coração ao ritmo dos pedais –
    lá vai o poeta em direcção aos seus
    sinais. Dá à pata
    como os outros animais.

    O sol é branco, as flores legítimas, o amor
    confuso. A vida é para sempre tenebrosa.
    Entre as rimas e o suor, aparece e desaparece
    uma rosa. No dia de verão,
    violenta, a fantasia esquece. Entre
    o nascimento e a morte, o movimento da rosa floresce
    sabiamente. E a bicicleta ultrapassa
    o milagre. O poeta aperta o volante e derrapa
    no instante da graça.

    De pulmões às costas, a vida é para sempre
    tenebrosa. A pata do poeta
    mal ousa pedalar. No meio do ar
    distrai-se a flor perdida. A vida é curta.
    Puta de vida subdesenvolvida.

    O bico do poeta corre os pontos cardeais.
    O sol é branco, o campo plano, a morte
    certa. Não há sombra de sinais.
    E o poeta dá à pata como os outros animais.

    Se a noite cai agora sobre a rosa passada,
    e o dia de verão se recolhe
    ao seu nada, e a única direcção é a própria noite
    achada? De pulmões às costas, a vida
    é tenebrosa. Morte é transfiguração,
    pela imagem de uma rosa. E o poeta pernalta
    de rosa interior dá à pata nos pedais
    da confusão do amor.
    Pela noite secreta dos caminhos iguais,
    O poeta dá à pata como os outros animais.

    Se o sul é para trás e o norte é para o lado,
    é para sempre a morte.
    Agarrado ao volante e pulmões às costas
    como um pneu furado,
    o poeta pedala o coração transfigurado.
    Na memória mais antiga a direcção da morte
    é a mesma do amor. E o poeta,
    afinal mais mortal do que os outros animais,
    dá à pata nos pedais para um verão interior.

    Herberto Hélder (1930-2015)

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